Ao Amor
Parece-me difícil olhar por cima do ombro de Deus para lhe espreitar o jogo. Mas que Ele jogue aos dados ou use métodos “telepáticos”... Isso não acredito nem por um momento.
Einstein
Einstein
Primeiro éramos átomos singelos. Naïfes. Depois, aos poucos, a dança coordenada e incompreensível da vida foi-nos refinando, cada um no seu espaço, enigmaticamente. Deixámos de ser apenas átomos e passámos a ser um pouco mais que apenas átomos. Muito mais do que átomos. Um pouco mais que a misteriosa vontade que une sobre cada um de nós cada um desses corpúsculos. Éramos mais do que átomos mas não éramos ainda um só todo (apenas). Éramos dois todos, incompletos, e cada um a seu canto.
Fomos ganhando vontades. Fomos criando quereres que nos fizeram homem e mulher, finos. Homem e mulher, encantadores. Eu, um cabeça nas nuvens, desnecessariamente espiritual. Tu, a mais terra-a-terra das terra-a-terra. Terra-a-terra de forma útil e prática. Demasiado terra-a-terra só para ti, da mesma forma que a minha cabeça era demasiado no ar só para mim.
Depois, quando pensávamos que mais nenhuma combinação fosse possível, que nada mais havia a unir, quando nos sonhávamos completos, como se tivesse cessado toda e qualquer fusão, quando nos fazíamos crer que nada mais podia haver nesta coisa chamada mistério, nesta latrina chamada existência, quando acreditávamos no vazio para além das nossas essências cheias de vontades, de vontades separadas, uniu-nos o amor. O nosso amor. O nosso amor foi a forma consciente da união de algo mais que (apenas) átomos, algo acima dos átomos, uma mesma dança mas dessa vez não somente coordenada como compreensível. Foi a perfeição. Os meus esforços para me manter unido e integro passaram a olhar as tuas partículas como partes minhas. Passaste a ser o meu espelho: Olhando-te olhava-me; Vendo-te via-me; Tocando-te sentia-me. Passámos a viver impregnados de nós, havendo sempre um espaço entre os espaços cheios para, perplexamente, nos misturarmos ainda um pouco mais e mais e mais e mais e mais...
Fomos ganhando vontades. Fomos criando quereres que nos fizeram homem e mulher, finos. Homem e mulher, encantadores. Eu, um cabeça nas nuvens, desnecessariamente espiritual. Tu, a mais terra-a-terra das terra-a-terra. Terra-a-terra de forma útil e prática. Demasiado terra-a-terra só para ti, da mesma forma que a minha cabeça era demasiado no ar só para mim.
Depois, quando pensávamos que mais nenhuma combinação fosse possível, que nada mais havia a unir, quando nos sonhávamos completos, como se tivesse cessado toda e qualquer fusão, quando nos fazíamos crer que nada mais podia haver nesta coisa chamada mistério, nesta latrina chamada existência, quando acreditávamos no vazio para além das nossas essências cheias de vontades, de vontades separadas, uniu-nos o amor. O nosso amor. O nosso amor foi a forma consciente da união de algo mais que (apenas) átomos, algo acima dos átomos, uma mesma dança mas dessa vez não somente coordenada como compreensível. Foi a perfeição. Os meus esforços para me manter unido e integro passaram a olhar as tuas partículas como partes minhas. Passaste a ser o meu espelho: Olhando-te olhava-me; Vendo-te via-me; Tocando-te sentia-me. Passámos a viver impregnados de nós, havendo sempre um espaço entre os espaços cheios para, perplexamente, nos misturarmos ainda um pouco mais e mais e mais e mais e mais...
Depois... Depois veio o inevitável decaimento. Como nos átomos simples, também o nosso todo mais que o todo de algo mais que (simples) átomos, a nossa vontade maior que as vontades, a nossa verdade nossa, era inconstante. A maleita começou em parte incerta, de forma ténue, sem darmos por isso. Decaiu aquilo que nos tornou no todo feliz e ficou apenas o que está para além dos elementos simples mas aquém do todo: As vontades, separadas. Um dia irão também decair essas vontades separadas e depois delas decairão os átomos e, outra vez separados dos todos já separados, iremos incorporar novas existências, primeiro singelas, depois algo mais que singelas, depois, algo mais que algo mais que singelas, átomo por átomo, incompreensivelmente. Porque, os átomos duram mais que as vontades, as vontades são o combustível imperceptível dessas partículas, o amor... o nosso amor, esse é a vontade incrível que une as mais estranhas vontades: A minha e a tua.